segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

BRINCAR BRINCANDO


      "Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo." (FREIRE.1987, p.39)
      Todas as leituras que fizemos durante o curso confirmam esta afirmativa de Freire. O sujeito é naturalmente um ser social, desde as primeiras horas depende do outro para seguir sua vida. Comunica-se com o mundo através de diferentes interações. O bebe interage com a mãe (ou com a pessoa mais próxima afetivamente), mais tarde descobre as possibilidades do seu corpo e como comunicar-se com o entorno - aprendem a tomar consciência de si mesmo e a perceber e a compreender o mundo ao seu redor - assim vai se constituindo como sujeito que age, interage, modifica e é modificado. Freire usa o termo “mediatizado pelo mundo” como uma forma de responder às diferentes maneiras de ser e ver o mundo. O mundo é visto, percebido por este sujeito a partir das suas histórias pessoal, social e cultural que foi se estabelecendo nas interações deste com o meio. Portanto, este mundo percebido foi constituído por este mesmo sujeito nas inter-relações estabelecidas ao longo de sua vida.
      Novamente venho falar do Brincar, importância reconhecida pelo Documento Preliminar da Base Nacional Comum Curricular (2016) como sendo um dos Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento das Crianças, “que atravessa e permeia todas as circunstâncias da vida coletiva da criança” (PPP da EMI Pedacinho do Céu, 2017), e é assegurada como elemento constitutivo desta escola em que trabalho desde 2014.
      O protagonismo da criança é valorizado sob o ponto de vista destas novas abordagens em que a observação se torna essencial para a realização e desenvolvimento de um projeto pedagógico inicial, onde existe uma maior preocupação com o tempo, o espaço, e a readequação das salas de aula, além do material oferecido.
      Mas sempre me questiono em relação aos espaços que são pré-determinados e limitados. O tempo que disponibilizamos e o tempo da criança. Quanto aos materiais, acredito que avançamos um pouco, sabendo-se que o brincar heurístico é fundamental.
      Estamos tão acostumados a possuir brinquedos, presentear brinquedos, ganhar brinquedos e até usá-los como barganha, que esquecemos que para brincar basta o corpo.  É preciso lembrar que as primeiras experiências do brincar são feitas quando a criança descobre as possibilidades do seu corpo, tomando consciência de si e do entorno, e passa a compreender o mundo.  
      Precisamos possibilitar mais experiências deste tipo para crianças de qualquer idade, deixando espaços livres para que descubram novas possibilidades de brincar que a própria natureza oferece, desafiando as suas habilidades corporais ao mesmo tempo que oferece inúmeras experiências sensoriais. Oportunizar ambientes seguros, mas ao mesmo tempo desafiadores, onde possam desenvolver potencialidades e interações que as salas de aula ou a pracinha muitas vezes não permitem. Que possam organizar suas próprias brincadeiras, que delimitem ou não seus espaços de brincar, explorem, façam trocas com o meio, experimentem, inventem, construam hipóteses, testem, desafiem suas habilidades, se relacionem com a natureza (água, ar, terra, chão, luz, sombra, pedra, seres, plantas, etc).



CUNHA, Maria. Inovações pedagógicas e a reconfiguração dos saberes no ensinar e no aprender na universidade. VIII Congresso Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais. Coimbra.2004.
GONÇALVES; C.J.S. Corporeidade; Uma complexa trama transdisciplinar. Revisão do Conceito. Tese de Doutorado. UNIMEP. 2005
FREIRE, Paulo. À Sombra desta mangueira.  Ed. Olho D’água. São Paulo, 2000.
MORIN, Edgar. Os Sete Saberes Necessários à Educação do Futuro. UNESCO. Brasília. 2002




domingo, 24 de fevereiro de 2019

O BRINCAR

  

     “Vamos brincar que brincar alimenta sonhos, expectativas e renova emoções! ”.
    Comentário feito por Glauber Moraes sobre uma postagem minha em 23/04/16.(https://nanciba.blogspot.com/2016/04/brincar.html)

       O brincar é a expressão natural da criança, uma forma de representar e conhecer o mundo, ajuda no seu desenvolvimento físico e emocional. Brincando também pode resolver seus conflitos internos.
       Nos textos lidos na interdisciplina Corporeidade-Epistemologia e vivências do aprender, fica clara a necessidade de afeto entre as partes - quem cuida e quem é cuidado – aluno/professor, pais/filhos. Sem esta afetividade nas interações, possivelmente não aconteçam os processos de ensino aprendizagem, pois as aprendizagens acontecem em corporeidade, que implicam um corpo consciente de suas sensações, emoções e de seus potenciais. Brincando alimentamos os sonhos através das emoções das descobertas, aumentamos nossas expectativas perante novos desafios e renovamos nossas emoções pois o corpo que interage não é mais o mesmo nem as suas percepções serão iguais.
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GONÇALVES; C.J.S. Corporeidade; Uma complexa trama transdisciplinar. Revisão do Conceito. Tese de Doutorado. UNIMEP. 2005
 MATURANA, Humberto e VARELA, Francisco. A Árvore do Conhecimento. Palas Athenas, 2003.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

ESCOLAS DEMOCRÁTICAS - NOVOS TEMPOS



A inclusão escolar envolve, basicamente, uma mudança de atitude face ao Outro: que não é mais um, um indivíduo qualquer, com o qual topamos simplesmente na nossa existência e com o qual convivemos um certo tempo, maior ou menor de nossas vidas. O Outro, é alguém que é essencial para a nossa constituição como pessoa e dessa Alteridade é que subsistimos, e é de lá que emana a Justiça, a garantia da vida compartilhada. (MONTOAN, 2009, p.03)

     Dei início a essa reflexão com uma citação que utilizei em uma postagem no dia 19 de outubro de 2016 (https://nanciba.blogspot.com/2016/10/escola-inclusiva-e-democratica.html), e continuo reafirmando que só existirão escolas democráticas se nós cidadãos comuns e também professorxs de escolas públicas adotarmos mudanças atitudinais perante o outro. E como pensar estas mudanças? Debatendo as formas de fazê-la de maneira que seja realmente democrática. A escola em que trabalho pensou essas mudanças, modernizou-se em relação as estruturas, nas formas de avaliar e nas abordagens. Mas fica uma pergunta: Realmente mudamos nossas atitudes? Principalmente com aqueles chamados desajustados, houve alteridade?
     As especificidades são muitas e aumentam a cada dia. A sociedade tem nos cobrado uma demanda muito grande em relação à diversidade, mas o que vejo brotar dentro das escolas, neste último ano, é um crescente discurso inflamado de volta aos velhos costumes disciplinares e até militarizado, para “combater” à essa demanda diversa de comportamentos e modos de ser. Ou seja, existe uma grande parte da comunidade escolar que endureceu o seu modo de pensar, certamente uma leitura  de mundo errônea ideologicamente. Quando em 2016, afirmei que era preciso priorizar e aprimorar a formação docente, vejo o contrário se afirmando dentro da escola com desmandos e intolerâncias, juntamente com uma desqualificação do corpo docente e demais pessoas que lidam com estes alunos decorrentes das novas formas de administração do poder público, que terceiriza o seu maior patrimônio que é o de educar e o do educador.
     Se tínhamos um caminho tortuoso a percorrer em 2016, e sim, estávamos galgando lentamente ganhos em prol de uma educação mais democrática, através do diálogo com a comunidade, do acolhimento, do compromisso, da apropriação de nossas vidas nos direitos de crescer, ser e estar, este se tornou impetuoso e antagonista. Perdemos direitos e nos tiram a autonomia, subjulgam as diferenças e nos dizem o que ensinar e aprender.
    Nos resta a alteridade. Nos resta obedecer a nossa vocação e motivação. Nos resta a reflexão e a criatividade.