Todas as leituras que fizemos durante o curso confirmam esta
afirmativa de Freire. O sujeito é naturalmente um ser social, desde as primeiras
horas depende do outro para seguir sua vida. Comunica-se com o mundo através de
diferentes interações. O bebe interage com a mãe (ou com a pessoa mais próxima
afetivamente), mais tarde descobre as possibilidades do seu corpo e como
comunicar-se com o entorno - aprendem a tomar consciência de si mesmo e a
perceber e a compreender o mundo ao seu redor - assim vai se constituindo como
sujeito que age, interage, modifica e é modificado. Freire usa o termo “mediatizado
pelo mundo” como uma forma de responder às diferentes maneiras de ser e ver o
mundo. O mundo é visto, percebido por este sujeito a partir das suas histórias
pessoal, social e cultural que foi se estabelecendo nas interações deste com o
meio. Portanto, este mundo percebido foi constituído por este mesmo sujeito nas
inter-relações estabelecidas ao longo de sua vida.
Novamente venho falar do Brincar, importância reconhecida
pelo Documento Preliminar da Base Nacional Comum Curricular (2016) como sendo
um dos Direitos de Aprendizagem e Desenvolvimento das Crianças, “que atravessa
e permeia todas as circunstâncias da vida coletiva da criança” (PPP da EMI Pedacinho
do Céu, 2017), e é assegurada como elemento constitutivo desta escola em que
trabalho desde 2014.
O protagonismo da criança é valorizado sob o ponto de vista
destas novas abordagens em que a observação se torna essencial para a
realização e desenvolvimento de um projeto pedagógico inicial, onde existe uma
maior preocupação com o tempo, o espaço, e a readequação das salas de aula,
além do material oferecido.
Mas sempre me questiono em relação aos espaços que são
pré-determinados e limitados. O tempo que disponibilizamos e o tempo da
criança. Quanto aos materiais, acredito que avançamos um pouco, sabendo-se que
o brincar heurístico é fundamental.
Estamos tão acostumados a possuir brinquedos,
presentear brinquedos, ganhar brinquedos e até usá-los como barganha, que esquecemos
que para brincar basta o corpo. É preciso
lembrar que as primeiras experiências do brincar são feitas quando a criança descobre
as possibilidades do seu corpo, tomando consciência de si e do entorno, e passa
a compreender o mundo.
Precisamos possibilitar mais experiências deste tipo para
crianças de qualquer idade, deixando espaços livres para que descubram novas
possibilidades de brincar que a própria natureza oferece, desafiando as suas
habilidades corporais ao mesmo tempo que oferece inúmeras experiências
sensoriais. Oportunizar ambientes seguros, mas ao mesmo tempo desafiadores,
onde possam desenvolver potencialidades e interações que as salas de aula ou a
pracinha muitas vezes não permitem. Que possam organizar suas próprias
brincadeiras, que delimitem ou não seus espaços de brincar, explorem, façam
trocas com o meio, experimentem, inventem, construam hipóteses, testem, desafiem
suas habilidades, se relacionem com a natureza (água, ar, terra, chão, luz,
sombra, pedra, seres, plantas, etc).
CUNHA, Maria. Inovações pedagógicas e a reconfiguração dos
saberes no ensinar e no aprender na universidade. VIII Congresso
Luso-Afro-Brasileiro de Ciências Sociais. Coimbra.2004.
GONÇALVES; C.J.S. Corporeidade; Uma complexa trama
transdisciplinar. Revisão do Conceito. Tese de Doutorado. UNIMEP. 2005
FREIRE, Paulo. À Sombra desta mangueira. Ed. Olho D’água. São Paulo, 2000.
MORIN, Edgar. Os Sete Saberes Necessários à Educação do
Futuro. UNESCO. Brasília. 2002