sábado, 9 de dezembro de 2017

CENSO ESCOLAR





      Durante a coleta e a sistematização dos dados, a partir das informações do Censo Escolar  e/ou ficha de matrícula dos alunos de uma determinada turma de minha escola, percebi uma maioria declarado branco no quesito cor, o que não confere com a minha observação de uma escola de periferia..  Passei a pesquisar as outras turmas e novamente os dados se repetem. Fiz uma rápida reflexão sobre o que eu sabia sobre cor e raça. Ao perguntar à pessoa que realiza responsável pelas matrículas das crianças, de que forma são preenchidos os dados, se pelos responsáveis ou por ela, a resposta que me foi dita é que se o responsável não preenche a lacuna cor, ela mesma preenche, segundo seus critérios. 
      Sabendo que raça é uma construção social para a desigualdade promovendo a hierarquização de uns sobre os outros e “cor é empregada para designar a classificação racial dos sujeitos sem, no entanto, se comprometer com a “raça” em si.”(INEP/MEC ,2016, P.12) penso que os dados coletados pela escola para o censo usa a pergunta cor, com esta intencionalidade. E pensando na pessoa responsável pela coleta dos dados, que declara branco, os não autodeclarados,  também com a intencionalidade de não comprometer-se com a “raça”. 
       Os dados recolhidos foram de uma turma de berçário, com 20 alunos, sendo 10 do sexo feminino e 10 do sexo masculino. Nascidos entre o mês de abril de 2016 e abril de 2017. Declarados de cor “branca” 19 crianças, “parda” 1 criança e nenhuma para “não declarada” e “preta”.

       Entendo a subjetividade de pertencimento a uma ou outra raça/cor, e que a “percepção é sempre orientada ou informada[1], mas eu diria que nesta turma poderíamos declarar umas três crianças pretas e no mínimo outras duas pardas. O declarar-se ou não declarar-se a uma ou outra cor, remete a uma classificação dos sujeitos, que constituiu-se  histórica e socialmente para desqualificar uns perante os outros, e talvez esteja ai a maior dificuldade em se sentir pertencente a raça ou cor parda e preta que sempre foram as mais discriminadas das raças/cor/etnias na nossa sociedade brasileira.   




OLIVEIRA, Adolfo Samuel, MACHADO, Taís de Sant’Anna, SENKEVICS, Adriano Souza.   A Cor ou Raça nas Estatísticas Educacionais – Uma análise dos instrumentos de pesquisa do Inep. MEC. Brasilia, 2016.
 



[1] Guimarães, 2009, p. 46 citado no texto A COR OU RAÇA NAS ESTATÍSTICAS EDUCACIONAIS UMA ANÁLISE DOS INSTRUMENTOS DE PESQUISA DO INEP

Nenhum comentário:

Postar um comentário